Ontem à noite estava saindo do cinema quando li no Twitter e no Facebook relatos sobre a
barbárie que acontecera em Porto Alegre.
Um motorista atropelou dezenas de ciclistas que participavam da
Bicicletada.
O movimento, que acontece na última sexta-feira do mês em diversas cidades de vários países, começou em São Francisco, Califórnia, em 1992 com o objetivo de celebrar pacificamente o uso da bicicleta como meio de transporte.
A
Critical Mass, ou
Massa Crítica ou
Bicicletada reune centenas de ciclistas com o objetivo de ocupar seu espaço nas ruas e criar um contraponto aos meios estabelecidos de transporte urbano.
Eu participei de duas Bicicletadas aqui em São Paulo no ano passado. Na primeira delas tive uma experiência divertida e tranquila. Na segunda vez, já não me senti mais tão confortável no grupo por discordar da atitude de alguns ciclistas, por me sentir insegura em vários momentos, mas principalmente porque sou -- por natureza -- avessa a grupos ideológicos, partidos políticos e coisas assim. Já falei aqui algumas vezes que não sou cicloativista, nem eco-chata. Minha única ideologia é fazer a minha parte e ter fé de que o respeito seja recíproco e a convivência pacífica.
Mas devo confessar que minha fé sofre abalos constantemente.
Muitas vezes nas pedaladas de que participo, vemos motoristas irritados por ter que esperar 10, 15 segundos para dar passagem a uma bicicleta.
As pessoas têm níveis de estresse imprevisíveis e São Paulo não é exatamente uma cidade zen, mas é a cidade que escolhi para chamar de minha e gosto dela, apesar de suas imperfeições. E é justamente por amá-la que faço, no meu dia-a-dia, minha contribuição para uma cidade melhor.
Sou um carro a menos e considero que essa seja uma pequena grande atitude.
Muitas vezes me perguntam se eu não vou criticar quem vai ao trabalho de carro, ou quem compra uma moto ao invés de uma bicicleta. Jamais faria isso. Primeiro porque respeito o lilvre arbítrio. Segundo porque não sou eu quem vai dizer aos outros como devem viver suas vidas, essa definitivamente não é a minha missão nessa vida. Terceiro porque sou contra qualquer posicionamento radical, que serve apenas para isolar e não contribui em nada para a manutenção do diálogo. E, convenhamos, "quem não se comunica, se trumbica" (como já dizia o Chacrinha).
Eu até nem ligo muito para as buzinadas e outros "gracinhas", pois acho que é uma questão cultural que mudará tão logo as pessoas se acostumem a dividir as ruas.
Mas o episódio lamentável de ontem me fez refletir sobre que tipo de poder um ser humano acha que possui ao entrar num automóvel e jogá-lo contra dezenas de seus semelhantes... Isso não tem explicação e nem justificativa.
Enfim, gostaria de expressar:
Minha solidariedade às vítimas do atropelamento.
Minha esperança de que e que essa barbárie jamais se repita e que o criminoso seja punido exemplarmente, nos termos da lei.
Meu respeito pelos ciclistas que saem todos os dias às ruas buscando seu espaço, em grupo ou sozinhos.
Minha fé de que ciclistas, pedestres, motoristas e motociclistas têm a capacidade de partilhar a rua respeitando as leis de trânsito e buscando a harmonia.
Beijokas da Fernanda.